segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

"Poema" - Maria Teresa Horta

 






Poema





Deixo que venha


se aproxime ao de leve


pé ante pé até ao meu ouvido



Enquanto no peito o coração


estremece


e se apressa no sangue enfebrecido



Primeiro a floresta e em seguida


o bosque


mais bruma do que neve no tecido



Do poema que cresce e o papel absorve


verso a verso primeiro


em cada desabrigo



Toca então a torpeza e agacha-se


sagaz


um lobo faminto e recolhido



Ele trepa de manso e logo tão voraz


que da luz é a noz


e depois o ruído



Toma ágil o caminho


e em seguida o atalho


corre em alcateia ou fugindo sozinho



Na calada da noite desloca-se e traz


consigo o luar


com vestido de arminho



Sinto-o quando chega no arrepio


da pele, na vertigem selada


do pulso recolhido



À medida que escrevo


e o entorno no sonho


o dispo sem pressa e o deito comigo






Maria Teresa Horta

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