"Ilusão" - Fagundes Varela
Ilusão
Sinistro como um fúnebre segredo
passa o vento do Norte murmurando
nos densos pinheirais;
a noite é fria e triste; solitário
atravesso a cavalo a selva escura
entre sombras fatais.
À medida que avanço, os pensamentos
borbulham-me no cérebro, ferventes,
como as ondas do mar,
e me arrastam consigo, alucinado,
à casa da formosa criatura
de meu doido cismar.
Latem os cães; as portas se franqueiam
rangendo sobre os quícios; os criados
acordem pressurosos;
subo ligeiro a longa escadaria,
fazendo retinir minhas esporas
sobre os degraus lustrosos.
No seu vasto salão iluminado,
suavemente repousando o seio
entre sedas e flores,
toda de branco, engrinaldada a fronte,
ela me espera, a linda soberana
de meus santos amores.
Corro a seus braços trêmulo, incendido
de febre e de paixão… A noite é negra,
ruge o vento no mato;
os pinheiros se inclinam, murmurando:
-Onde vai este pobre cavaleiro
com seu sonho insensato?…
Fagundes Varela
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