quarta-feira, 20 de janeiro de 2021

"Ilusão" - Fagundes Varela

 





Ilusão




Sinistro como um fúnebre segredo

 
passa o vento do Norte murmurando

 
nos densos pinheirais;

 
a noite é fria e triste; solitário

 
atravesso a cavalo a selva escura

 
entre sombras fatais.



À medida que avanço, os pensamentos

 
borbulham-me no cérebro, ferventes,

 
como as ondas do mar,

 
e me arrastam consigo, alucinado,

 
à casa da formosa criatura

 
de meu doido cismar.


Latem os cães; as portas se franqueiam

 
rangendo sobre os quícios; os criados

 
acordem pressurosos;

 
subo ligeiro a longa escadaria,

 
fazendo retinir minhas esporas

 
sobre os degraus lustrosos.



No seu vasto salão iluminado,

 
suavemente repousando o seio

 
entre sedas e flores,

 
toda de branco, engrinaldada a fronte,

 
ela me espera, a linda soberana

 
de meus santos amores.



Corro a seus braços trêmulo, incendido

 
de febre e de paixão… A noite é negra,

 
ruge o vento no mato;

 
os pinheiros se inclinam, murmurando:

 
-Onde vai este pobre cavaleiro

 
com seu sonho insensato?…




Fagundes Varela

0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP