quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

"À espera dos bárbaros" - Konstantinos Kaváfis

 






À espera dos bárbaros

 




O que esperamos nós em multidão no Fórum?



Os Bárbaros, que chegam hoje.



Dentro do Senado, porque tanta inação?


Se não estão legislando, que fazem lá dentro os senadores?



É que os Bárbaros chegam hoje.


Que leis haveriam de fazer agora os senadores?


Os Bárbaros, quando vierem, as farão.



Porque é que o Imperador se levantou de manhã cedo?


E às portas da cidade está sentado,


no seu trono, com toda a pompa, de coroa na cabeça?



Porque os Bárbaros chegam hoje.


E o Imperador está à espera do seu Chefe


para recebê-lo. E até já preparou


um discurso de boas-vindas, em que pôs,


dirigidos a ele, toda a casta de títulos.



E porque saíram os dois Cônsules, e os Pretores,


hoje, de toga vermelha, as suas togas bordadas?


E porque levavam braceletes, e tantas ametistas,


e os dedos cheios de anéis de esmeraldas magníficas?


E porque levavam hoje os preciosos bastões,


com pegas de prata e as pontas de ouro em filigrana?



Porque os Bárbaros chegam hoje,


e coisas dessas maravilham os Bárbaros.



E porque não vieram hoje aqui, como é costume, os oradores


para discursar, para dizer o que eles sabem dizer?



Porque os Bárbaros é hoje que aparecem,


e aborrecem-se com eloquências e retóricas.



Porque, subitamente, começa um mal-estar,


e esta confusão? Como os rostos se tornaram sérios!


E porque se esvaziam tão depressa as ruas e as praças,


e todos voltam para casa tão apreensivos?



Porque a noite caiu e os Bárbaros não vieram.


E umas pessoas que chegaram da fronteira


dizem que não há lá sinal de Bárbaros.



E agora, que vai ser de nós sem os Bárbaros?


Essa gente era uma espécie de solução.




 

Konstantinos Kaváfis


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