"Fragmentos do Livro de Eros" - Casimiro de Brito
Fragmentos
do Livro de Eros
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Casa de praia em Byblos. Adormeço, mas não muito. Noite escaldante. Senta-se ao
piano, nua, e toca uma sonata de Mozart, o Allegro Assai da Sonata Nº 2 em Fá
Maior. E já está quase a entrar no Adagio quando me aproximo e a acaricio nos
ombros e na cintura e nos seios muito leve levemente para não perturbar o seu
ritmo e depois enquanto a ouço adormeço, nem sei como, no tapete da sala de
música. Quando acordo é ela quem dorme,
agarrada aos meus joelhos e então escrevo, com um pincel, nas suas costas nuas:
Ah como
ela é quente
a luz que tu me escondes —
a flor do teu corpo
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Os meus olhos têm sido tão louvados por quem me ama, o corpo de emoções que
eles transmitem, que já nem os sinto meus, parecem-me um farol que vem de
longe, um espelho das muitas coisas que sofri e calei e amei intensamente. Amo
agora; estou no cume de Faraya e amo-te tanto que a neve em volta me aquece.
Casimiro de Brito
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