segunda-feira, 28 de setembro de 2020

"Poema XI" - Pablo Neruda

 



Poema XI



 

 

Tenho fome de tua boca, de tua voz, de teu pelo,



 

e pelas ruas vou sem nutrir-me, calado,



 

não me sustenta o pão, a aurora me desequilibra,



 

busco o som líquido de teus pés no dia.



 

 

 

Estou faminto de teu riso resvalado,



 

de tuas mãos cor de furioso celeiro,



 

tenho fome da pálida pedra de tuas unhas,



 

quero comer tua pele como uma intacta amêndoa.



 

 

 

Quero comer o raio queimado em tua beleza,



 

o nariz soberano do arrogante rosto,



 

quero comer a sombra fugaz de tuas pestanas



 

 

 

e faminto venho e vou olfateando o crepúsculo



 

buscando-te, buscando teu coração ardente



 

como um puma na solidão de Quitratúe.



 

 

 

Pablo Neruda



0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP