O ‘portuglês’ que merecemos
O céu da boca brasileira não tem limite para os desvarios da língua portuguesa. A Veja desta semana reagiu em duas páginas à síndrome Odorico Paraguaçu que tomou conta dos políticos depois dos 15 dias que abalaram o Brasil. Foi para confundir a voz das ruas que os poderosos de Brasília exercitam empolamento, eufemismo e embromação como garante a revista? É preciso um Elio Gaspari botar em ação a Madame Natasha de suas colunas no Globo e na Folha de S.Paulo, a professora que cuida de evitar que o idioma português seja colocado em áreas de risco? Ou esse linguajar é próprio de Brasília como há tempos Augusto Nunes vem distribuindo o troféu besteirol às frases dos políticos?
Elas beiram o vocabulário do melhor personagem de O Bem Amado (Dias Gomes), “para cada problemática uma solucionática”, “destabocado somentemente”, “providenciamentos inauguratícios”.“Talqualmente”, como diria Odorico, Joaquim Barbosa referiu-se a empoladas “proposituras” quando as ruas queriam ação, Brasília resolveu discutir “mobilidade urbana” quando o povo pedia redução do preço das passagens, e Renan Calheiros compareceu ao casamento de um amigo em Trancoso a bordo de um avião da FAB, que no seu linguajar tratava-se de “um avião de representação”.
O veterano correspondente no Brasil do jornal espanhol El País, Juan Arias, matou a charada numa mesa da FLIP: “Tenho a sensação de que a sociedade brasileira está falando uma língua e o poder, outra”.
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