"Quem nos protege da morte?" - José Paulo Pinto Lobo
Quem nos protege da morte?
«Quando
os nossos pais morrem ficamos frente a frente com a nossa própria morte.»
«Oh,
percebo o que quer dizer. (…)
Já não
há ninguém para nos proteger contra a morte.»
Lucia Berlin. Manual para Mulheres de Limpeza. Portugal: Alfaguara, 2016, p.253.
Quando
nascemos, a morte valsa com Strauss em torno do nosso berço, cantando canções
de embalar.
Espreita
por cima nossos ombros soprando arrepios e premonições.
Sapateia
com Fred Astaire e Ginger Rogers nas tampas dos nossos caixões ainda vazios.
Dança
tango com Astor Piazzola enquanto aguarda pacientemente o término da agonia do
moribundo.
Ou
bruscamente ceifa a esperança vindoura.
É a
noiva prometida em casamento inevitavelmente consumado.
É
possível sentir a alma de quem amamos? Antes que o barqueiro Caronte, filho da
noite e da escuridão a leve?
Deslizando
por entre os nossos braços antes do embarque, num abraço final de despedida?
Se
perecem pais e amigos quem nos protegerá da morte? Quem nos acompanhará na
última hora?
Será
mesmo a derradeira?
Ou
estarão eles nos esperando, do outro lado do véu, acompanhados de Schiller,
entoando o Hino da Alegria?
José
Paulo Pinto Lobo
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