"Na grande partida, eu te amo mais... " - Mahmoud Darwish
Na grande partida, eu te amo mais...
Na
grande partida eu a amo mais, e em breve
você
fechará a cidade. Não há um coração para mim na sua mão, nem
um
caminho que me leve. Na grande partida eu a amo mais.
Não
há leite para a romã na nossa varanda depois que você tiver ido. O palmeiral
diminuiu,
diminuiu
o peso das colinas, nossas ruas diminuíram no crepúsculo,
a
terra diminuiu quando se despediu de sua terra. As palavras diminuíram,
as
histórias diminuíram na escada da noite. E o meu coração está carregado.
Deixe-o
aqui ao redor da sua casa a bater e chorar o tempo bom.
Não
tenho outra pátria além dele. Na partida eu a amo mais.
Esvazio
a alma das últimas palavras: eu a amo mais.
Na
partida, as borboletas guiam as nossas almas, na partida
lembramos
o botão da camisa que se desprendeu, e esquecemos
a
dança dos cavalos nas noites das nossas núpcias, na partida
nos
igualamos às aves, sentimos compaixão dos nossos dias, basta-nos o pouco,
de
você, basta-me a adaga dourada que faz dançar o meu coração assassinado.
Mate-me,
devagar, para que eu possa dizer: eu a amo mais do que
eu
disse antes da grande partida. Eu a amo. Nada dói em mim.
Nem o ar, nem a água... a sua manhã é uma manhã sem manjericão, na sua
tarde
nenhum lírio dói em mim... depois da grande partida.
Mahmoud Darwish
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