quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

"Gente é mais ou menos como rio" - Viviane Mosé

 



Gente é mais ou menos como rio

 




Gente é mais ou menos como rio:


Tem os que gostam de perigo e se lançam de grandes alturas


Tem os de muitos braços que atiram pra todos os lados


Tem os de muitos redemoinhos que comem bois e gente


Tem os que gostam demais de si e viram lago


Tem os que só sabem correr parados


São os empoçados os pantaneiros os alagados


Tem os que transam com a terra formando ilhas


O fundo de alguns é de pedra. Tem os de peixes coloridos


Outros têm água clarinha. E tem gente córrego seco


E tem gente riacho escuro. Alguns a terra engole vivos


E tem até rio que corre pra trás


O rio que eu sou nasceu em janeiro


Tem gente que tem o costume de vazar pelos cantos.


No começo vaza calada. Aos poucos. Aos pingos.


Mas se pega gosto principia o derrame.


Escorre quando fala. Escorre quando anda.


Não tem mais braço nem cabelo que segure.


Parece que vicia em ficar transbordada.


Mas tem gente que quando transborda é pra dentro


E corre o risco de ficar represada. E represa, você sabe.


Se aumenta muito arrebenta.


Mas se a pessoa ensaia um jeito de derramar pra fora


Aí vai fazendo leito. Vai abrindo seu caminho na terra


E a terra parece que se abre para ela passar. Às vezes não.



 

Viviane Mosé


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