"Conselhos a um neófito literário" - José Paulo Pinto Lobo
Conselhos a um neófito literário
Escreve.
Escreve
apenas.
O
que te aprouver.
Pula
a mensagem.
Regurgita.
O
que bebeste dos espíritos.
Os
seus caprichos ditados.
Desabafa.
O
que te assombra a alma.
Se
entala na garganta.
Cuida
bem da ortografia.
As
palavras detestam
vestes
erradas.
Passa
indiferente pela vergonha.
Como
escreveu o poeta Knopfli.
"Um
verso está sempre certo
mesmo quando errado".
Que
a tua ambição seja somente
libertar
a tua imaginação.
Se
escreves para a posteridade
Esquece!
A
partir desse momento
estarás
morto. Morto-vivo.
Vagueando
no deserto.
Viajante
perdido.
Sedento.
No
deserto da literatura.
Neste
deserto mandam
tuaregues
e beduínos
ciosos
do seu território.
Tribos de escritores, críticos e editores
Não
te darão suculentas tâmaras
para
saciares a fome de letras.
Nem
água dos oásis para aplacares a sede de inspiração.
Alguns
julgam-se vivos mas
pertencem
ao clube dos poetas mortos.
Se
o que escreveres for objecto
de
gáudio de outros
Não
tendo conseguido ser escritor
Ao
menos serás palhaço.
Consola-te.
Sabendo que
pelo
menos leram
o
que escreveste.
Se
te apelidarem de
usurpador
de poesia.
Agradece.
Foi
como o poeta Craveirinha se auto-intitulou.
Em
dedicatória a Miguel Torga.
José Paulo Pinto Lobo
(Poeta moçambicano)
Cascais, 2 de Dezembro 2023
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