"Em louvor dos equilibristas" - Carlos Loures
Em louvor dos equilibristas
Falta ainda uma condecoração,
ordem ou comenda que consagre
o esforço do equilibrista
em prol da civilização.
Formidável ciclista,
verdadeiro paganini da circulação
em cima do arame,
o ciclista percorre,
sem qualquer hesitação,
o ténue espaço que separa
a esquerda direita.
É um simples traço,
quase uma abstração,
um risco passado
por onde não há espaço.
Ágil, aproveita
o espaço inexistente
deslocando o corpo obliquamente:
metade sobre o risco da direita
e a outra debruçada
sobre os riscos da vertente
que à esquerda, sobre o abismo,
espreita.
Mas ouçamos a receita do artista
(que ninguém está livre
de a ter de usar:
quando menos se espera e pensa,
a corda tensa, a pista, a vertigem,
lá estão à espera
dos que não aprenderam a voar).
Diz, com modéstia,
o frágil saltimbanco:
– Afinal nem é assim tão complicado.
Sigo pela direita
quando
ando;
avanço pela esquerda
quando estou
parado.
Carlos Loures
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