quarta-feira, 11 de outubro de 2023

"Em louvor dos equilibristas" - Carlos Loures

 



Em louvor dos equilibristas




Falta ainda uma condecoração,


ordem ou comenda que consagre


o esforço do equilibrista


em prol da civilização.


Formidável ciclista,


verdadeiro paganini da circulação


em cima do arame,


o ciclista percorre,


sem qualquer hesitação,


o ténue espaço que separa


a esquerda direita.


É um simples traço,


quase uma abstração,


um risco passado


por onde não há espaço.


Ágil, aproveita


o espaço inexistente


deslocando o corpo obliquamente:


metade sobre o risco da direita


e a outra debruçada


sobre os riscos da vertente


que à esquerda, sobre o abismo,


espreita.


Mas ouçamos a receita do artista


(que ninguém está livre


de a ter de usar:


quando menos se espera e pensa,


a corda tensa, a pista, a vertigem,


lá estão à espera


dos que não aprenderam a voar).


Diz, com modéstia,


o frágil saltimbanco:


– Afinal nem é assim tão complicado.


Sigo pela direita


quando


ando;


avanço pela esquerda


quando estou


parado.



 

Carlos Loures


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