sexta-feira, 11 de novembro de 2022

"Quando foi?" - José Paulo Pinto Lobo

 





Quando foi?

 

 

 



Desembarco na cidade velha de mais de um século


Que tal como uma idosa senhora de traços caídos


Ainda conserva resquícios de uma beleza antiga


Sinto-me um alienígena sem passado


Passageiro num comboio de destino desconhecido



 

Circulo pelas ruas a quem furtaram os passeios


Pejados de montinhos barracas e quejandos


Há informais vendedores fugindo de ratoneiros polícias


Alunos fardados cães vadios pedintes e lixeiras


E crianças brincando nas águas estagnadas


Txopelas txovas e chapas se atropelando em alucinadas gincanas



 

No alagável subúrbio barracas de madeira e zinco ou de blocos de cimento sem reboco


As pessoas se afogam em babalazes de cerveja e tontonto


Xilonguine cidade de prédios decrépitos e malcheirosos


Gradeadas gaiolas para pássaros de olhares vazios que perderam as asas


E de luzentes novos condomínios escritórios e restaurantes finos


Com guardas sonolentos em assentos improvisados


Na sombra das acácias que ainda resistem exibindo suas rubras flores



 

Por entre os destroços de uma guerra invisível


Na irreversibilidade do desconcerto


Uma insistente pergunta martela minha mente


Quando foi como foi


Que nos transformamos nisto?



 

I got to move canta Gran’Mah


Esqueço a tristeza e aceito o desafio


Danço ao som do seu jovem reggae


Socorro-me dos inconformados escritores


Numa mão Museu da Revolução do João Paulo Borges


Noutra a Literatas do Eduardo Quive


E assim sigo lendo e dançando



 

 


José Paulo Pinto Lobo


 

(Poeta moçambicano)


 

11 de Novembro 2022




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