sábado, 9 de outubro de 2021

A propósito do Nobel da Literatura - Convidar as pessoas a deixarem de fingir que nasceram com os valores universais humanistas na barriga

 



Coisas que incomodam. A transformação do escritor num etnógrafo da sua cultura. Não é que isso não se faça. Mas isso limita a relevância da sua obra ao seu povo. Isto é, Gurnah não recupera a experiência humana, mas sim a experiência local. Não estou a ser mesquinho. A documentação da experiência colonial e do refúgio só é digna de celebração se ela nos disser algo maior sobre a nossa humanidade comum. Já, agora, o que estes relatos dizem aos membros do comité Nobel sobre os valores da cultura europeia que estiveram por detrás da humilhação do povo tanzaniano? A segunda coisa é esta “inocência branca” – estou a usar um conceito da antropóloga holandesa, Gloria Wekker. O pessoal lá do Comité não sabe o que foi o colonialismo? Não leu o que os historiadores escreveram? Precisava de ouvir isso dum escritor, ou há algo que o escritor está a trazer que transcende o quadro da historiografia e nos convida para outros tipos de reflexão? Porque são importantes os relatos dos horrores do colonialismo? Por serem documentos duma época, ou por nos convidarem a rever os nossos próprios valores? Os europeus estão a fazer isso? É nestes momentos que penso na profundidade duma afirmação de Toni Morrisson quando ela se indagava como um europeu deve se sentir sabendo tudo o que foi feito em nome da sua cultura? Não é possível atribuir um prémio destes a um africano sem responder a essa pergunta. Para ler o texto do moçambicano Elísio Macamo clique aqui





Margaret Atwood: muito além do "Conto da Aia" 


Até pouco tempo, Margaret Atwood era a mais famosa escritora canadense em atividade, algo que o Nobel concedido em 2013 a sua colega Alice Munro pode ou não ter alterado. A sua curiosidade e a sua versatilidade como criadora são amplas. Ela já publicou umas seis dezenas de livros, entre poesias, contos, romances, ensaios luminosos e inteligentes, resenhas generosas (não avalia livros dos quais não gosta), mas também já se dedicou a libretos de óperas e roteiros para histórias em quadrinhos. É também aberta a vincular seu trabalho a experiências desconcertantes – em 2014, foi a primeira escritora a colaborar com um projeto artístico chamado Future Library: ela entregou um romance inédito para ser guardado por 100 anos e só publicado em 2114 com papel produzido a partir de uma floresta plantada especificamente para essas futuras edições. Para ler o texto de Carlos André Moreira clique aqui


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