"Poema do desgaste e do contraste" - Adão Cruz
Poema do
desgaste e do contraste
Há muito que
não saía à rua
há muito que não saía fora de mim
em direção ao meu corpo abandonado
estendido em fria paleta sem cor
sobre um manto de poemas carcomidos
ruídos de musgo e manchas de bolor.
há muito que não saía fora de mim
em direção ao meu corpo abandonado
estendido em fria paleta sem cor
sobre um manto de poemas carcomidos
ruídos de musgo e manchas de bolor.
Há muito que
não saía à rua
há muito que não sentia a dor
do desprezo da poesia
feita espuma de coisas impalpáveis
escaldantes
abertas e sangrantes
no sofrido labirinto da alma vazia.
há muito que não sentia a dor
do desprezo da poesia
feita espuma de coisas impalpáveis
escaldantes
abertas e sangrantes
no sofrido labirinto da alma vazia.
Há muito que
não saía à rua
há muito que não me apercebia um só momento
do cantar bronco do poeta
em perpétuo e estúpido invento.
há muito que não me apercebia um só momento
do cantar bronco do poeta
em perpétuo e estúpido invento.
Há muito que
não saía à rua
há muito que não dobrava a porta deste corpo
abandonado na escuridão de uma noite peregrina
de lacrimosas horas perdidas
em poemas de cinza em cada esquina.
há muito que não dobrava a porta deste corpo
abandonado na escuridão de uma noite peregrina
de lacrimosas horas perdidas
em poemas de cinza em cada esquina.
Há muito que
não saía à rua
e pisava o chão purulento do degredo
na lama fria dos poemas e do medo
que rompiam as cadeias do meu corpo.
e pisava o chão purulento do degredo
na lama fria dos poemas e do medo
que rompiam as cadeias do meu corpo.
Há muito que
não saía à rua
há muito que se apagou a felicidade
mudando o cair da noite e o nascer do dia
em matéria grosseiramente física
de versos telúricos
sem poesia nem liberdade.
há muito que se apagou a felicidade
mudando o cair da noite e o nascer do dia
em matéria grosseiramente física
de versos telúricos
sem poesia nem liberdade.
Adão Cruz
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