sexta-feira, 29 de maio de 2020

"Mãos de hoje que foram de sempre" - Adão Cruz

Mãos de hoje que foram de sempre – poema de Adão Cruz | A Viagem ...


Mãos de hoje que foram de sempre

Na noite que já não é noite de madrugadas
perpassa em doce silêncio por entre os dedos dormentes
uma brisa dolente
esquecendo as mãos na paz adormecida.
Por entre os frágeis dedos da quietude e do silêncio
vagueia agora em suave melancolia
o magro regato da secura da vida
arrastando em seu leito rugoso
a triste canção de um tempo sem cor nem movimento.
O lento gesto do abrir destas mãos de tantos anos vividas
cai agora em pesado silêncio por entre as malhas da sombra
no impiedoso vazio das mãos cheias de nada.
Foi-se embora a madrugada das manhãs perdidas
no tempo em que o sol sorria entre os sonhos
e as mãos cantavam a força da vida
com ondas do mar por entre os dedos frementes.
No penoso abrir e fechar de mãos
deste plangente gesto do fim do dia
feito canção de tão gélido silêncio
apenas a saudade se aninha em negro fundo
para morrer sozinha.

Adão Cruz

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