"De esperas" - Joaquim Pessoa
De
esperas
... construímos o amor intenso e súbito
que encheu as tuas mãos de sol e a tua
boca de beijos.
Em estranhos desencontros nos amamos.
Havia o rio mas sempre ficávamos na
margem.
Eu tocava o teu peito e os teus olhos
e, nas minhas mãos,
a tarde projetava as suas grandes
sombras
enquanto as gaivotas disputavam sobre a
água
talvez um peixe inquieto, algo que
nunca pudemos ver.
As nossas bocas procuravam-se sempre,
ávidas e macias
E por muito tempo permaneciam assim,
unidas,
machucando-se, torturando as nossas
línguas quase enlouquecidas.
Depois olhavamo-nos nos olhos.
No mais profundo silêncio.
E, sem palavras, partíamos com as mãos
docemente amarradas
e os corações estoirando uma alegria
breve
Quando a noite descia apaixonada
Como o longo beijo da nossa despedida.
Joaquim Pessoa
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