"Homens" - Sophia de Mello Breyner Andresen

Homens
No perfil agudo dos quartos
Nos ângulos mortais da sombra
com a luz.
Vê como as espadas nascem
evidentes
Sem que ninguém as erguesse — de
repente.
Vê como os gestos se esculpem
Em geometrias exatas de destino.
Vê como os homens se tornam
animais
E como os animais se tornam
anjos
E um só irrompe e faz um lírio
de si mesmo.
Vê como pairam longamente os
olhos
Cheios de liquidez, cheios de
mágoa
Duma mulher nos seus cabelos
estrangulada.
E todo o quarto jaz abandonado
Cheio de horror e cheio de
desordem.
E as portas ficam abertas,
Abertas para os caminhos
Por onde os homens fogem,
No silêncio agudo dos espaços,
Nos ângulos mortais da sombra
com a luz.
Sophia de Mello Breyner
Andresen
0 comentários:
Postar um comentário