terça-feira, 15 de maio de 2018

Últimos fragmentos do “Livro de Eros” - Casimiro de Brito

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Últimos fragmentos do “Livro de Eros”

5241 
Só quem muito sofreu poderá escrever um poema de amor.


5242
O amor, quando cai, não escolhe nem a idade, nem a beleza, nem o espírito. Talvez até escolha. Mas não é nosso o domínio dessa escolha.


5243
Vejo-te por todo o lado e, de todas as maneiras, te vejo: virginal, deitada na relva, como se fosse a primeira vez, langorosa, entrando pelo meu corpo como se fosses o que, de facto és: recatada, escondendo os teus jardins mas depois revelando-os pouco a pouco; atrevida, elevando os meus relevos, adaptando-os ao teu desejo e arte e tudo; imaginativa, roçando flores tuas onde sou mármore de desejo; desejosa, como se estivéssemos a inventar novos caminhos — e estamos, e todo me louvas e atrais e sugas, e toda te desfaço em luz e febre e tu a mim num bicho cada vez mais intempestivo e glorioso e tudo


5244
Guardas no teu peito, mulher, colinas que não conheço. Deixas-me conhecê-las?


5245
Eu não vejo a minha amada, não a vejo nem a ouço, apenas. Nem a sinto sem mais. Eu vivo-a.


5246
Os meus dedos foram feitos à medida dos bicos dos teus seios.


5247
Pousaste, no meu peito, o teu joelho. Vénus dominadora. E assim arrancaste do meu ventre um fulgor que julgava cansado. Vénus ou Medeia, rejuvenescendo Esão, pai de Jasão?


Casimiro de Brito

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