Últimos fragmentos do “Livro de Eros” - Casimiro de Brito
Últimos fragmentos do “Livro de Eros”
5241
Só quem muito sofreu poderá escrever um poema
de amor.
5242
O amor, quando cai, não escolhe nem a idade, nem a beleza, nem o espírito.
Talvez até escolha. Mas não é nosso o domínio dessa escolha.
5243
Vejo-te por todo o lado e, de todas as maneiras, te vejo: virginal, deitada na
relva, como se fosse a primeira vez, langorosa, entrando pelo meu corpo como se
fosses o que, de facto és: recatada, escondendo os teus jardins mas depois revelando-os
pouco a pouco; atrevida, elevando os meus relevos, adaptando-os ao teu desejo e
arte e tudo; imaginativa, roçando flores tuas onde sou mármore de desejo;
desejosa, como se estivéssemos a inventar novos caminhos — e estamos, e todo me
louvas e atrais e sugas, e toda te desfaço em luz e febre e tu a mim num bicho
cada vez mais intempestivo e glorioso e tudo
5244
Guardas no teu peito, mulher, colinas que não conheço. Deixas-me conhecê-las?
5245
Eu não vejo a minha amada, não a vejo nem a ouço, apenas. Nem a sinto sem mais.
Eu vivo-a.
5246
Os meus dedos foram feitos à medida dos bicos dos teus seios.
5247
Pousaste, no meu peito, o teu joelho. Vénus dominadora. E assim arrancaste do
meu ventre um fulgor que julgava cansado. Vénus ou Medeia, rejuvenescendo Esão,
pai de Jasão?
Casimiro de Brito
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