"Amar é ver o que mais ninguém vê..." - Casimiro de Brito
Amar é ver o que mais ninguém vê
num corpo que súbito se ilumina;
é sentir levantar-se um não sei quê,
um desejo que já me desatina.
É soltar a voz como se ela fosse
um animal em plena gestação.
Amar é dar-te o sal, airoso e doce,
que trago no boca do coração.
Derramar o meu plexo o meu carinho
na fonte viva onde macero a água
que logo se transforma em grato vinho.
E tudo em mim agora é só caminho
onde só havia silêncio e mágoa.
Amor é regressar ao quente ninho.
II
Tanto amei que pensei que já não tinha
amor para dar à minha namorada.
Enganei-me. A noite brilha cheiínha
de uma carne para sempre apaixonada.
Também ela parecia que vinha
de uma solidão por demais cansada;
e eis que se abre a voz que foi sozinha
em uma boca distante e selada.
E tanto nos amamos nesta aventura
que palavras não calam tal destino
e cantam plenas a sábia loucura
de me sentir novamente menino;
bebendo no seio da fonte obscura
o sal inteiro do mel mais felino.
Casimiro de Brito
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