sábado, 19 de maio de 2018

"quando a ternura for a única regra da manhã" - José Luís Peixoto

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quando a ternura for a única regra da manhã
um dia, quando a ternura for a única regra da manhã, 
acordarei entre os teus braços. a tua pele será talvez demasiado bela.
e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.
um dia, quando a chuva secar na memória, quando o inverno for
tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada
de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da
nossa janela. sim, cantarão pássaros, haverá flores, mas nada disso
será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi
nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar
a perfeição da felicidade.

José Luís Peixoto, in 'A Criança em Ruínas' 

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