"Onze astros no último céu andalusino" - Mahmud Darwich
Onze astros no último céu andalusino
Na última noite nesta terra,
arrancamos nossos dias
dos arbustos e separamos as costelas,
as que levaremos junto
e as que deixaremos aqui, na última
noite
não temos tempo para despedidas, ou
tempo para acabar as coisas,
tudo fica como está, é o lugar que
vai trocar nossos sonhos
e vai trocar seus visitantes. De
súbito, não saberemos como brincar,
porque o lugar já aguarda seu hóspede
por aqui, na última noite
contemplamos as montanhas cercadas
pelas nuvens: conquista, reconquista,
o tempo antigo entrega ao tempo novo
as chaves de nossas portas.
Entrem, então, conquistadores, entrem
em nossas casas, bebam de nosso vinho
E de nossas doces muachahát. A noite
é o que somos depois da meia-noite,
Sem o alvorecer trazido nas patas de
um cavalo emissário do último chamado à oração.
Nosso chá é verde e quente, bebam-no, nosso pistache é crocante, comam-no,
nossas camas são verdes, da madeira
do cedro, usem-nas para descansar
após tão longo cerco, e durmam sobre as plumas de nossos sonhos,
as camas estão forradas, o perfume
recende à porta, há tantos espelhos, entrem,
nós sairemos de vez e logo
procuraremos saber
como era nossa história em torno da
história de vocês no país distante,
vamos ao final nos perguntar: o
Andalus
era aqui ou lá? Na terra ou no poema?
Mahmud Darwich
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