quarta-feira, 1 de novembro de 2023

"Onze astros no último céu andalusino" - Mahmud Darwich


 


Onze astros no último céu andalusino

 




Na última noite nesta terra, arrancamos nossos dias


dos arbustos e separamos as costelas, as que levaremos junto


e as que deixaremos aqui, na última noite


não temos tempo para despedidas, ou tempo para acabar as coisas,


tudo fica como está, é o lugar que vai trocar nossos sonhos


e vai trocar seus visitantes. De súbito, não saberemos como brincar, 


porque o lugar já aguarda seu hóspede por aqui, na última noite


contemplamos as montanhas cercadas pelas nuvens: conquista, reconquista,


o tempo antigo entrega ao tempo novo as chaves de nossas portas.


Entrem, então, conquistadores, entrem em nossas casas, bebam de nosso vinho


E de nossas doces muachahát. A noite é o que somos depois da meia-noite,


Sem o alvorecer trazido nas patas de um cavalo emissário do último chamado à oração.


Nosso chá é verde e quente, bebam-no, nosso pistache é crocante, comam-no,

 

nossas camas são verdes, da madeira do cedro, usem-nas para descansar


após tão longo cerco, e durmam sobre as plumas de nossos sonhos,

 

as camas estão forradas, o perfume recende à porta, há tantos espelhos, entrem,


nós sairemos de vez e logo procuraremos saber


como era nossa história em torno da história de vocês no país distante,


vamos ao final nos perguntar: o Andalus


era aqui ou lá? Na terra ou no poema?



 

Mahmud Darwich


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