"Sou dos últimos reis " - Mahmoud Darwish
Sou dos últimos
reis
Sou dos
últimos reis... apeei da
égua no
último inverno, sou o último suspiro árabe.
Não apareço
no mirto por cima dos telhados, não
olho ao
redor para ver se alguém me vê, alguém que me conhecesse de antes,
que
soubesse que lapidei o mármore da fala para a minha mulher atravessar
descalça as
manchas de luz, não apareço na noite para
não ver a
lua que acendia os segredos de Granada
em cada
corpo. Deixo de olhar a sombra para não ver
alguém
carregando o meu nome e vindo atrás de mim:
retire de
mim o seu nome e dê-me
a prata do
álamo. Não me viro para trás para não
lembrar que
passei sobre este chão. Não há chão nesta
terra desde
que o tempo se partiu ao meu redor em mil fragmentos.
Não fui um
apaixonado para acreditar que as águas fossem espelhos,
como eu
disse aos antigos amigos, nenhum amor intercede por mim,
desde que
aceitei o “acordo de paz” não tenho presente
para passar
perto a manhã do meu passado. Castela erguerá
uma coroa
sobre o minarete de Deus. Ouço o barulho das chaves na
porta
dourada da História, adeus à nossa história, serei eu
que vai trancar a ultima porta do céu? Sou o último suspiro árabe.
Mahmoud Darwish
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