sábado, 15 de janeiro de 2022

"Nós Poetas" - Carlos Loures

 




Nós Poetas

 



 

 

Dizemos Povo, cantamos Povo


sem que as nossas vozes edifiquem


por vezes as traves da palavra


as sibilinas trevas do seu som.


A que pedra arrancámos a sua abóbada


de mãos erguidas e crispados gritos?


Em que mesa compartilhámos a sua fome,


em que dorso sofremos o seu cansaço


e em que lenço enxugámos o seu suor?


Em que rosto chorámos as suas lágrimas,


em que peito albergámos a sua dor?



 

Ah companheiros de ofício, nem sempre


ou quase nunca o Povo dos poemas


é aquele que transcorre pelas paisagens


em que habita o desespero e espera a morte.


Bandeira será florindo o nosso verso,


mas povo no poema é coisa rara


que em rosa não cabe a sua sorte.




 

 

Carlos Loures



 

 

 

 

 

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