"Nós Poetas" - Carlos Loures
Nós Poetas
Dizemos
Povo, cantamos Povo
sem
que as nossas vozes edifiquem
por
vezes as traves da palavra
as
sibilinas trevas do seu som.
A
que pedra arrancámos a sua abóbada
de
mãos erguidas e crispados gritos?
Em
que mesa compartilhámos a sua fome,
em
que dorso sofremos o seu cansaço
e
em que lenço enxugámos o seu suor?
Em
que rosto chorámos as suas lágrimas,
em
que peito albergámos a sua dor?
Ah
companheiros de ofício, nem sempre
ou
quase nunca o Povo dos poemas
é
aquele que transcorre pelas paisagens
em
que habita o desespero e espera a morte.
Bandeira
será florindo o nosso verso,
mas
povo no poema é coisa rara
que
em rosa não cabe a sua sorte.
Carlos Loures
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