domingo, 30 de janeiro de 2022

"Não tragam flores" - José Paulo Pinto Lobo

 





Não tragam flores






 

Não tragam flores e lágrimas pro meu funeral


À sombra da acácia rubra plantem meu caixão


Olvidem lápides e marmóreos mausoléus


Semeiem alegremente mimosas e girassóis


Chamem o canto de xiricos e a cauda do pavão



 

Espalhem minhas cinzas ao vento que o norte traz


Para que peregrine por montes vales e mares


No dorso do golfinho e asas do alcatraz


Melodia dos risos de crianças ouvindo inebriado


E as árias sussurradas do casal enamorado



 

Embrulhem em alvo lençol meu corpo finado


Abram uma funda cova e ajeitem lisa pedra


Me aconchegarei na vermelha terra fresca


Repousando a cabeça na almofada pétrea


Com o coração aquietado no leito improvisado



 

Regozijem-se então


Dançando e entoando alegre canção



 

Me chamem sem angústias e constrições


Me deitarei etéreo com suave desvelo


Velando o sono visitando vossos sonhos


Adoçando tristezas serenando o pesadelo


Habitando eternal vossas ternas recordações



 

 

José Paulo Pinto Lobo


 

 

Cascais, 30 de Janeiro 2022






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