"Não tragam flores" - José Paulo Pinto Lobo
Não tragam flores
Não tragam flores e lágrimas pro meu funeral
À sombra da acácia rubra plantem meu caixão
Olvidem lápides e marmóreos mausoléus
Semeiem alegremente mimosas e girassóis
Chamem o canto de xiricos e a cauda do pavão
Espalhem minhas cinzas ao vento que o norte traz
Para que peregrine por montes vales e mares
No dorso do golfinho e asas do alcatraz
Melodia dos risos de crianças ouvindo inebriado
E as árias sussurradas do casal enamorado
Embrulhem em alvo lençol meu corpo finado
Abram uma funda cova e ajeitem lisa pedra
Me aconchegarei na vermelha terra fresca
Repousando a cabeça na almofada pétrea
Com o coração aquietado no leito improvisado
Regozijem-se então
Dançando e entoando alegre canção
Me chamem sem angústias e constrições
Me deitarei etéreo com suave desvelo
Velando o sono visitando vossos sonhos
Adoçando tristezas serenando o pesadelo
Habitando eternal vossas ternas recordações
José Paulo Pinto Lobo
Cascais, 30 de Janeiro 2022
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