Ler Noémia de Sousa hoje
No seu poema “Moças das Docas”, Noémia de Sousa lança o seu olhar
sobre as mulheres moçambicanas, em particular as que trabalham nas docas nos
negócios do prazer, i.e., as prostitutas. Todavia, essa centragem é também
sobre a sua própria condição de mulher, dado que a poeta se inclui na categoria
das fugitivas do poema. Com efeito, Noémia abre o poema da seguinte maneira
“Somos fugitivas de todos os bairros de zinco e caniço/Fugitivas das Munuanas e
dos Xipamanines”, o que nos oferece duas pistas de leitura. A primeira é que
Noémia se inclui nas mulheres de que o poema fala e se solidariza com as
mulheres nele contidas. A segunda é que estas mulheres são provenientes de
bairros de lata onde a pobreza grassa. Arrastadas pelas suas próprias
circunstâncias de vida (são pobres e estão desesperadas), são forçadas a
prostituir-se. Para ler o texto de Ana Sofia Souto clique aqui
(Des)controlo em Luanda: urbanismo, polícia e lazer nos musseques do Império
O racismo entre as duas comunidades dividia, de cima a baixo, a
sociedade luandense, do poder judicial ao comércio que se fazia no interior dos
musseques. A retórica usada pelo procurador, ao tentar abanar os alicerces
sociopolíticos dessa justiça racial e ao pôr a descoberto a hipocrisia, o
subjetivismo e a parcialidade dos juízes, invocava três imagens sobre o mesmo
espaço: o recorrente dualismo entre a cidade branca e a cidade negra; um
roteiro da modernidade urbanística conspurcada pelo terrorismo e a geografia
punitiva do império. Para ler o texto de Bernardo Pinto da Cruz clique aqui
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