"Poema Inútil" - Manuel Cintra
Claro que não. Nada disto encoraja ninguém.
O silêncio, que às vezes era sinônimo de paz,
aguarda agora outros sons, escondido na violência.
A pessoa que passa na rua pela pessoa, faz por não existir.
Se calhar tinha expressão de linho, e agora está uma estopa.
Os minutos mudaram de sangue. Já não conseguem circular.
As veias parecem cheias de um líquido que o futuro talvez mate.
Há canções,por todo o lado, à beira de morrer.
E perante isso, alguns morrem daquela outra coisa já prevista.
E outros, pela primeira vez, se sentem solidários e com desejos
de loucura, por terem sido sempre tão normais.
Agora a única hipótese é olhar para a prosa como se fosse poesia, olhar para a vida como se fosse música possível
e ainda totalmente por compor.
Muitos pensam no passado. Quando ainda não havia presente.
Quando um beijo não era ainda extra-terrestre.
Quando gritar ainda não chamava a atenção.
Quando a infecção ainda não fazia floreados no chão.
Somos tão frágeis como um beijo por dar, na palma da mão.
Manuel Cintra
(02/04/2020)
(02/04/2020)
0 comentários:
Postar um comentário