"Natureza morta com jarro e maçãs" - Nuno Júdice
Natureza morta com jarro e maçãs
As
mãos que moldaram este barro
acompanhando a rotação da luz
correram as cortinas da noite,
abriram as portadas da manhã,
deixaram entrar o vento da vida,
encheram de sonho os olhos,
construíram um muro de água.
As mãos que colheram estas maçãs
desenhando o círculo de um seio
subiram à copa das nuvens,
arrancaram as folhas ao horizonte,
limparam de erva o infinito,
plantaram a semente do desejo,
tocaram o rosto da tentação.
O poema que bebe esta água,
e tem a polpa deste fruto,
segue a forma que estas mãos
lhe emprestam, como se
moldasse através delas
o barro das palavras
de onde nasce o teu corpo.
Nuno Júdice
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