Empunhando simplórias Bic Cristal e com o ar
compenetrado de quem acaba de se alistar nos Intocáveis de Eliot
Ness, os ministros Ricardo Vélez Rodríguez e Sergio Moro assinaram ontem um documento que o
colombiano e discípulo de Olavo de Carvalho vê como o estopim da
"Lava Jato da Educação".
O objetivo é "apurar indícios de corrupção, desvios e outros
tipos de atos lesivos à administração pública no âmbito (sic) do
MEC e de suas autarquias nas gestões anteriores", diz no
release.
Trata-se da primeiro sinal concreto emitido por Vélez de que o
governo de extrema-direita irá declarar guerra às universidades
públicas federais. Até agora, tudo o que o colombiano fizera fora
distribuir bravatas.
Numa já célebre entrevista à Veja, ele contou ter
se tornado ministro por indicação de Carvalho – o auto-denominado
filósofo e guru do bolsonarismo – por ter "a faca nos dentes
para enfrentar o problema do marxismo (sic) no MEC".
Vélez também disparou o seguinte: "Tem de haver Lei de
Responsabilidade Fiscal para os reitores [de federais]. Eles são
habitantes deste belo país, também estão submetidos à lei. O CPF
deles pode ser rastreado pelo juiz (sic) Sergio Moro, por que não?
Querem mais dinheirinho? Paguem as contas".
A que contas se referiu, Vélez não explicou – e nem foi inquirido
pela Veja. E é aí que está o problema: ao prometer uma Lava Jato
contra as universidades com base em acusações genéricas, o ministro
não consegue sequer disfarçar que o objetivo é criar um novo
inimigo de estimação para um governo que mal começou e já se vê
constrangido por suspeitas graves que envolvem o filho, o partido e o principal cabo eleitoral do presidente.
"Quer dizer que para esse governo a educação superior é uma
inimiga? Vai ser assim mesmo?", questionou o reitor de uma das
principais universidades federais do país, que me pediu sigilo pelo
óbvio temor de retaliações contra a instituição. Nós conversamos
essa semana. "Poucas instituições são tão controladas como as
nossas. A CGU (Controladoria Geral da União) mora aqui dentro. Isso
soa como ameaça. O conteúdo simbólico é muito forte."
Nos últimos anos, multiplicaram-se investigações da Polícia Federal
em universidades. A maioria delas desbaratou esquemas criminosos
que não tinham participação das reitorias. Mas também avançou-se o
sinal.
No caso mais emblemático, o então reitor da UFSC Luiz Carlos
Cancellier de Olivo suicidou-se após ser preso, despido e algemado
por uma operação que sequer conseguiu amealhar provas contra ele.
A comandante daquela operação, a delegada Erika Mialik Marena, que
também fez parte da Lava Jato, não teve qualquer punição. Pelo
contrário: ganhou de Moro um cargo no ministério.
De Vélez, como diria o Barão de Itararé, não se podia esperar
nada melhor. Ele mesmo já disse que virou ministro para combater o
"marxismo do MEC", que na visão infantil do
olavo-bolsonarismo atinge seu ápice nas universidades federais,
verdadeiros antros de esquerdistas, gays, feministas e maconheiros.
Para o presidente e seu ministro da Educação, os universitários
brasileiros são os Freak Brothers, o hilário trio de hippies-alternativos-esquerdistas-drogadões
criado pelo quadrinista norte-americano Gilbert Shelton.
O que surpreende é ver Sergio Moro aceitar ser instrumento da
guerra do olavo-bolsonarismo. O juiz, um fã de quadrinhos visto por
seu fã-clube como o Eliot Ness brasileiro, se torna cada dia mais
parecido com – para nos mantermos na obra de Shelton – Tricky Prickears, o gambé cego, surdo e
ultra-reacionário que persegue os Freak Brothers. Enquanto isso,
Flávio Bolsonaro segue debochando do Ministério Público fluminense.
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Enquanto Vélez e Moro assinavam a declaração de guerra às
universidades, o novo presidente da Capes, Anderson Ribeiro
Correia, determinou novas regras para a abertura de novos cursos de
mestrado e doutorado no país, informou a ótima newsletter "Brasil Real Oficial", do
jornalista Breno Costa, colaborador do Intercept.
A partir de agora, é preciso provar a “adequação e justificativa da
proposta ao desenvolvimento regional ou nacional e sua importância
econômico-social”. Para Costa, abriu-se a brecha para que o MEC
possa exercer um controle ideológico sobre novos cursos de
pós-graduação.
"Mostrar que um curso de engenharia, por exemplo, tem um
impacto potencial direto no desenvolvimento regional é fácil. Mas e
quanto a cursos na área de sociologia, história, filosofia ou mesmo
psicologia?", Costa questionou.
A blitzkrieg do olavo-bolsonarismo contra a educação superior está
em marcha.
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