"Arbusto" - Nuno Júdice
Arbusto
Na noite em que bebeste medronho,
e me pediste a lua, ouvi os deuses cantarem
de dentro das pedras. Enquanto me fazias
perguntas, e eu te olhava como
se nunca te tivesse visto, limitei-me a recolher
o canto que subia da terra, como
se nele estivesse a resposta
que me pedias. E entre o pedaço de seio
que subsiste dessa noite, e a lua
que não fui buscar, o tempo escorre
pelas mãos que guardaram a tua voz,
como se fosse um fruto, e a deixaram
macerada nos meus ouvidos, para
que dela nascesse o licor
do poema.
Nuno Júdice
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