"Elegia do nós" - Flávio Aguiar
Elegia do nós
Seria mais fácil se calássemos a boca
se tivéssemos sempre o mesmo rosto
a mesma idade, o mesmo eu, a mesma cor
ninguém diria: tenho fome
ninguém ousaria: quero mais
Seria tão mais fácil se as perguntas se ausentassem
o silêncio seria menos constrangido
o som despertaria à menor ordem superior
e nunca ver íamos a face
do nosso algoz ou do nosso amor
Seria tão mais fácil se nós não nos amássemos
se não nos quiséssemos assim tanto de repente
ou tão devagar
o mundo seria uma só calma
e o prazer, uma cela solitária
Seria tão mais fácil se ninguém dormisse
a noite não seria esse espaço impenitente
não haveria despertar
nem esse efêmero abandono
a tudo aquilo que não fomos
Seria tão mais fácil se nós não existíssemos
mas acontece que nós somos
também aquilo que não somos
acontece que tudo está fora de lugar
a chacoalhar o mundo das certezas mortas
E acontece o amor e acontece o ódio
e nós gostamos do aperto
de nos esfregar pelos quartos, pelas ruas
pelos estádios e pelo tempo afora
Acontece que nós gostamos de gozar
de rir das pompas e solenidades
de ser em todas as idades
Acontece que é bom ter no rosto
a sensação de ter um rosto
E ver o vento, a noite
o sertão e o além-mar
Acontece que não é mais antigamente
quando hoje seria melhor
Acontece que há o fruto e a semente
e plantar e colher não é trabalho fácil
Acontece que nós somos gente
Aqui agora depois e para sempre
Seria mais fácil se calássemos a boca
se tivéssemos sempre o mesmo rosto
a mesma idade, o mesmo eu, a mesma cor
ninguém diria: tenho fome
ninguém ousaria: quero mais
Seria tão mais fácil se as perguntas se ausentassem
o silêncio seria menos constrangido
o som despertaria à menor ordem superior
e nunca ver íamos a face
do nosso algoz ou do nosso amor
Seria tão mais fácil se nós não nos amássemos
se não nos quiséssemos assim tanto de repente
ou tão devagar
o mundo seria uma só calma
e o prazer, uma cela solitária
Seria tão mais fácil se ninguém dormisse
a noite não seria esse espaço impenitente
não haveria despertar
nem esse efêmero abandono
a tudo aquilo que não fomos
Seria tão mais fácil se nós não existíssemos
mas acontece que nós somos
também aquilo que não somos
acontece que tudo está fora de lugar
a chacoalhar o mundo das certezas mortas
E acontece o amor e acontece o ódio
e nós gostamos do aperto
de nos esfregar pelos quartos, pelas ruas
pelos estádios e pelo tempo afora
Acontece que nós gostamos de gozar
de rir das pompas e solenidades
de ser em todas as idades
Acontece que é bom ter no rosto
a sensação de ter um rosto
E ver o vento, a noite
o sertão e o além-mar
Acontece que não é mais antigamente
quando hoje seria melhor
Acontece que há o fruto e a semente
e plantar e colher não é trabalho fácil
Acontece que nós somos gente
Aqui agora depois e para sempre
Flávio Aguiar
0 comentários:
Postar um comentário