"Enquanto canto..." - Casimiro de Brito
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a que chamam vida, dói. É uma dor nos ossos
como se a terra que trago tremesse
leve — como se a mãe, que sempre me acolheu, me
expulsasse. Eu não sei
o que vou fazer agora, o sol
ainda não nasceu. Deito-me
no chão do parque, imagino a meu lado
a mulher amada
o corpo que se confundia com o corpo
da terra,
os pés que beijei à sombra de uma casa
onde fui feliz. A felicidade no alto
da serra e, através dela, da sua concha matricial
a memória de quem roça
nas estrelas. Nesse chão
em que fui uma pedra muda e úmida e possuída
pelo dom de cantar.
Casimiro de Brito
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