"Soneto da Ausente" - Cassiano Ricardo
Soneto da Ausente
É impossível que
na furtiva claridade
que te visita sem
estrela nem lua,
não percebas o
reflexo da lâmpada
com que te procuro
pelas ruas da noite.
É impossível que,
quando choras, não vejas
que uma de tuas
lágrimas é minha.
É impossível que,
com o teu corpo de água jovem,
não adivinhes toda
a minha sede.
É impossível não
sintas que a rosa
desfolhada a teus
pés, ainda há um minuto,
foi jogada por
mim, com a mão do vento.
É impossível não
saibas que o pássaro,
caído em teu
quarto por um vão da janela,
era um recado do
meu pensamento!
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