Rosangela Guerra: O que os jovens estão nos dizendo
Rosangela Guerra*
Os jovens levam para a sala de aula a sua cultura e o seu modo de
ver o mundo. Os questionamentos da juventude nos provocam e nos fazem refletir:
há espaço para a participação juvenil na escola?
Em função disso, a Secretaria de Estado de Educação de Minas (SEEMG)
promoveu rodas de conversas em várias regiões do estado, envolvendo cerca de 3
mil pessoas, entre estudantes do Ensino Médio e educadores. Os coletivos
juvenis foram também convidados a participar do diálogo com a SEEMG.
Um dos resultados das ações da SEEMG foi a reestruturação do Ensino Médio
noturno e da Educação de Jovens e Adultos (EJA), com a inserção na grade
curricular da disciplina Diversidade, Inclusão e Mundo do Trabalho (DIM). Esse
novo conteúdo escolar interage com as quatro áreas de conhecimento (Matemática,
Linguagens e Códigos, Ciências da Natureza e Ciências Humanas) e possibilita um
diálogo com a realidade vivida pelo estudante.
Na Escola Estadual Imaculada Conceição, na cidade de Pedro Leopoldo, um
aluno da EJA, que é confeiteiro, propôs a realização de um projeto sobre doces
brasileiros nas aulas de DIM. Para isso, a escola disponibilizou uma sala que
passou a ser utilizada como espaço de gastronomia. Conteúdos de Biologia,
Química e Matemática foram utilizados para estudo da composição dos alimentos, do
custo dos ingredientes e das unidades de medida. Os alunos capricharam na
escrita das receitas com clareza e precisão. O grupo envolvido nesse projeto
entrevistou doceiros antigos da cidade e pesquisou os doces tradicionais para ampliar
os conhecimentos sobre a culinária regional.
Outra medida com bons resultados nas escolas estaduais mineiras foi a
mudança do horário das aulas do noturno: o início passou de 18 h para 19 h e o
final, de 22h30 para 22h15. Essa medida simples passou a evitar os atrasos do
aluno trabalhador e contribuiu para aumentar a frequência às aulas.
Trabalhos coletivos e desafiantes
A Escola Estadual Olegário Maciel fica em um prédio
histórico do centro de Belo Horizonte e atende alunos do Ensino Médio. A maioria
mora em áreas de vulnerabilidade social da cidade e da região metropolitana. Os
jovens circulam pela escola cheios de estilo com piercings, alargadores, bonés, tatuagens e cortes de cabelo
criativos. As meninas assumem os cachos e os penteados afro. Na hora do intervalo,
a rádio-escola toca os ritmos de que a juventude gosta.
Articulados e questionadores, os alunos do Grêmio
Estudantil têm como prioridade as questões LBGT, étnica e a situação da mulher.
A turma do Grêmio participa de manifestações nas redes sociais e nas ruas sobre
política e movimento estudantil. Além disso, costuma ir à Câmara Municipal de
Belo Horizonte e à Assembleia Legislativa de Minas Gerais quando uma pauta de
interesse está em discussão.
O diretor Michael Rodrigues conta que a proposta da
Olegário Maciel é fazer com que os estudantes sejam protagonistas no processo de
construção do conhecimento. Para isso, eles são estimulados a desenvolver
projetos interdisciplinares sobre temas próximos à sua realidade. São trabalhos
coletivos cheios de desafios e feitos muitas vezes fora dos muros da escola,
como no campus da Universidade
Federal de Minas Gerais, onde conheceram o Programa Ações Afirmativas, e em outros
pontos da cidade que têm relação com os temas pesquisados.
Em 2016, toda a escola foi mobilizada para desenvolver
um projeto pautado pela seguinte questão: qual é o espaço do negro em Belo
Horizonte e na região metropolitana? As cotas na universidade, a
representatividade nos negros na mídia, o preconceito e a discriminação foram
alguns dos assuntos nas rodas de conversa realizadas em sala de aula. Organizados
em grupos e com a orientação de um professor, os alunos se dedicaram a
pesquisar, por exemplo, a capoeira, os duelos de MCs (como são chamadas as
competições entre os Mestres de Cerimônia do funk), a religiosidade, a presença de afrodescendentes na E. E.
Olegário Maciel e os personagens negros na história do Brasil. Em novembro de
2016, eles apresentaram vídeos gravados com o celular sobre os assuntos
pesquisados. Para Gustavo Almeida Lopes, 18 anos, 3º ano, o projeto mostrou que
qualquer espaço da sociedade pode e deve ser ocupado pelo negro: “é preciso
romper com a ideia de que há lugar [para ele] apenas no esporte e nas artes”.
Em 2017, o projeto é sobre a Declaração Universal dos Direitos
Humanos. A supervisora pedagógica Luciana Franca e Gomes explica que o objetivo
é fazer com que os jovens vivenciem um projeto de iniciação científica sobre
temas definidos por eles, partindo de vários artigos da Declaração. Por
exemplo, a qualidade de vida, um dos artigos, será estudada em diferentes
aspectos, como os que se referem ao acesso à informação, à energia, ao
saneamento básico, entre outros. No fim do ano, haverá a apresentação dos
alunos de banners e de painéis, assim
como ocorre nos eventos científicos.
Este texto foi publicado na Revista Digital Contemporânea Brasil
*Rosangela Guerra é jornalista graduada pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero (São Paulo, SP). Cria e desenvolve projetos editoriais voltados para professores da Educação Básica, alunos e suas famílias.
Este texto foi publicado na Revista Digital Contemporânea Brasil
*Rosangela Guerra é jornalista graduada pela Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero (São Paulo, SP). Cria e desenvolve projetos editoriais voltados para professores da Educação Básica, alunos e suas famílias.
E.mail: rosangelaguerra@gmail.com
0 comentários:
Postar um comentário