segunda-feira, 25 de setembro de 2017

"Amo-te" - Casimiro de Brito

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Amo-te


23
Amo-te, dizemos muitas vezes. Em várias línguas. É que nós, os amantes, temos pouca memória.



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Amo-te. Amo amar-te. Ontem foste cascata, hoje és torrente, amanhã quem sabe? Talvez um rio. Um rio paciente? Exaltado? Amo amar-te e nunca sei quantos somos nesta cama: sinto a terra, vejo estrelas, ouço o mar.



80
Amo-te mas não posso amar-te, não posso amar um sorriso que já não há, ou só na minha imaginação.



102 
Amo-te, invado o teu corpo, pulso em ti mas nunca poderei possuir-te. Não sei nada, não possuo coisa nenhuma. Entro no vazio intacto. E saio. E entro de novo.



263
Amo-te e não sei fazer mais nada.



357
Amo-te como se tocasse um alaúde, um instrumento humilde e um pouco cansado — e, no entanto, de cada som que arranco do teu corpo maduro, eleva-se uma gota de luz que todo me lava. E resplandecemos. Assistimos à nossa queda como se de facto estivéssemos a cair noutro mundo, a renascer noutro mundo e tudo em volta é um canto grato e silencioso.



581
Amo-te. Quero dizer: faz de mim o teu banquete.


Casimiro de Brito

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