terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

ENTREVISTA / TALES AB’SÁBER: Na balada do nada


Numa usina elétrica desativada, cenário de máquinas, fiações e tubos da era do nazismo, uma boate vira a noite sem fechar. É a Berghain/Panorama Bar – vulgo Paranoia, para os brasileiros que habitam o circuito techno –, apontada por alguns como o melhor clube do mundo, ainda que seja para turista ver. Tales Ab’Sáber foi um que lá baixou, numa estada em Berlim. E de lá saiu com a certeza de que tinha material valioso para uma perícia sobre a grande noite da diversão industrial, traduzido em A Música do Tempo Infinito, livro lançado em outubro pela Cosac Naify.
“É uma festa intensa, que deseja não terminar jamais”, diz o psicanalista sobre a balada alemã, que pulsa quase diariamente a partir das 23h59 e que, de sábado para domingo, entorpece o público com música eletrônica até a noite seguinte. Nessa perspectiva, o único sentido do dia é acionar o GPS para a próxima noitada, algo instantâneo de se fazer em Berlim, considerando a fábrica de entretenimento que é.
Depois da tragédia em Santa Maria, as blitze que se espalharam pelo País atrás de boates-ratoeiras escancarou uma noite brasileira também alucinada, que por nada festeja tudo. Antes do incêndio, somente na cidade gaúcha eram pelo menos cinco baladas por dia, de quinta-feira a sábado. Em São Paulo capital, 500 casas noturnas foram licenciadas no ano passado e cerca de 600 esperam na fila por um alvará, enquanto outros milhares se espalharam feito gripe pelo País.
“Trata-se de um dispositivo de época para a gestão do prazer”, diz Tales. “A balada é mais bonita, mais livre e mais erótica que a vida, e no entanto está totalmente articulada, econômica e socialmente, à vida como ela é.” Algo diferente dos shows de rock e dos inferninhos dos anos 1970? Em seu apartamento em Pinheiros, bairro que abriga mais de dez páginas de boates no Google, Tales tenta traduzir essa geração que, em suas palavras, vive uma experiência sensorial sem compartilhamento. Esse gaúcho, radicado desde o primeiro ano de vida em São Paulo, também faz uma crítica sobre a morte quase instantânea de mais de 230 guris num país que vendeu para si a imagem de moderno, mas que de modernidade só absorveu a excitação, o Facebook e a pirotecnia.
Pra ler a entrevista de Tales Ab’Sáber clique aqui

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