terça-feira, 23 de agosto de 2022

"Estilhaços da Alma" - José Paulo Pinto Lobo

 





Estilhaços da Alma

 



4:11


Marca o relógio digital na mesa-de-cabeceira.


Mais uma noite de insónia. Intranquila.


Levanto-me. Desço para a calçada. Pensativo.



 

Sentado no banco frio sob o plátano que me observa aconchego-me nos braços da nostalgia.


Restolham as folhas embaladas pela suave brisa.



 

Ouço sussurros. Chamamentos. Palavras soltas.


Uma estranha música ecoa.


Olho em redor. Só a alameda deserta e sem vivalma.


Nada se movimenta.


Nenhuma luz nos apartamentos que me circundam.



 

Banhado pelo luar interrogo a lua.


Aproximam-se os peregrinos dos tempos e da vida.


Sombras. Espíritos. Fantasmas.


A madrugada é o seu momento.



 

Falam dos sonhos perdidos na névoa e na memória dos homens.


Insistentes.


São como as marés. Retornam uma e outra vez. Sempre.



 

Pedem. Exigem.


Divulga a palavra.


Verdade. Respeito. Justiça. Igualdade.


Eu?



 

As palavras foram levadas pelo vento. Dos tempos. Esquecidas. Soterradas.


Nesta época de caos.



 

É possível partilhar os estilhaços da alma?



 

Queria apenas ser livre como o vento.


 



José Paulo Pinto Lobo


(Poeta moçambicano, 23/08/2022)


0 comentários:

  © Blogger template 'Solitude' by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP