"Estilhaços da Alma" - José Paulo Pinto Lobo
4:11
Marca o relógio digital na mesa-de-cabeceira.
Mais uma noite de insónia. Intranquila.
Levanto-me. Desço para a calçada. Pensativo.
Sentado no banco frio sob o plátano que me observa
aconchego-me nos braços da nostalgia.
Restolham as folhas embaladas pela suave brisa.
Ouço sussurros. Chamamentos. Palavras soltas.
Uma estranha música ecoa.
Olho em redor. Só a alameda deserta e sem vivalma.
Nada se movimenta.
Nenhuma luz nos apartamentos que me circundam.
Banhado pelo luar interrogo a lua.
Aproximam-se os peregrinos dos tempos e da vida.
Sombras. Espíritos. Fantasmas.
A madrugada é o seu momento.
Falam dos sonhos perdidos na névoa e na memória dos
homens.
Insistentes.
São como as marés. Retornam uma e outra vez. Sempre.
Pedem. Exigem.
Divulga a palavra.
Verdade. Respeito. Justiça. Igualdade.
Eu?
As palavras foram levadas pelo vento. Dos tempos.
Esquecidas. Soterradas.
Nesta época de caos.
É possível partilhar os estilhaços da alma?
Queria apenas ser livre como o vento.
José
Paulo Pinto Lobo
(Poeta
moçambicano, 23/08/2022)
0 comentários:
Postar um comentário