“Dicionário Pessoal” - Casimiro de Brito
“Dicionário Pessoal”
ABANDONO
Abandonaste-me mas não levaste o que, em mim, ficou de ti.
BAGAGEM
Nem o meu corpo levarei como bagagem.
CAMINHO
Do caminho nada sabes: nem o princípio nem o fim.
DÁDIVA
Esse que dá o que tem só começou a dar.
ELA
Ela canta, ela abre, ela ferve, ela fere, ela mata.
FALA
Só falo do que não conheço. Por isso falo de tudo.
GENIALIDADE
É perante as coisas mínimas que o génio se afirma.
HÁ POUCO
Ainda há pouco fui menino. Talvez ainda seja.
IDADE
Sim, o amor não conhece idade: ele é sempre novo e antigo.
JANELA
Tanta janela a começar pelos teus olhos.
LABIRINTO
Labirinto perfeito? O corpo da minha amada.
MÃE
Acolho-me ao seio da mãe, e tudo são mães.
NADA
Ando à procura do “nada” e só encontro novos caminhos.
OBSCURO
O obscuro ilumina-me. Basta aproximar-me um pouco.
PAIS
Meus pais não morreram pois os trago, para sempre, em mim.
QUEDA
Caio em ti como quem regressa a um charco antigo.
RAIZES
Árabe da parte do pai, judeu do lado da mãe.
SABEDORIA
Ninguém sabe — a sabedoria está sempre um pouco adiante.
TAPEÇARIA
O tapete da tua pele! Nele voo.
UTOPIA
O regresso à amizade depois do amor.
VELHICE
Estou velho mas acabo de regar a buganvília.
XADRÊS
No xadrez do amor não há vencido nem vencedor.
ZÉ DO TELHADO
O meu primeiro herói: roubava aos ricos para dar aos pobres.
Casimiro de Brito
0 comentários:
Postar um comentário