"O rio do meio" - Lya Luft
"Entre sótãos e porões
segue o rio do meio. Não interrompe seu curso quando dormimos ou comemos,
quando amamos ou nos frustramos, quando executamos projetos ou achamos que a
nossa força acabou.
Na margem, garças distraídas.
Inesperadamente uma delas joga-se no que parece o mergulho definitivo, mas
voltará depois de varar o escuro, bico apontado para um sol que já não cega
mais.
Uma torrente vara a nossa
casa: demora-se no cotidiano, dispara nas euforias, arrasta destroços ou
empurra esperanças, às vezes por gargantas noturnas. Mas há de emergir - com os
ímpetos de um parto - numa explosão de claridade. Isso, somos."
Lya Luft, in O rio do meio
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