"Os outros" - Casimiro de Brito
Os outros que vivem comigo
estão cheios de carências e têm medo
do dia que vai nascer
Os outros que vivem comigo
compram e vendem coisas ideias sentimentos
como quem muda de pele todos os dias
Só eu estou tranquilo e não digo nada
porque não estou numa festa num campo de batalha
e não preciso de sorrir a ninguém de morder
ninguém de fazer sinais
que me prendam a outros
Os outros que vivem comigo
correm de um lado para o outro agitam-se
e não encontram o caminho
mas eu não corro para lado nenhum
ouço a carne viva das águas o cerne
que vem do fundo o caminho que nunca
me abandona
Talvez eu seja ignorante
talvez a minha mente seja como a mente
de um louco
talvez eu seja apenas um espelho
que nada recusa nem aprisiona
mas os outros que vivem comigo
estão cheios de carências e vão morrer
porque não sabem que transportam em si
o vaso e a semente.
Casimiro de Brito
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