As escolas 'pobres' conseguem melhorar seu Ideb?
As escolas 'pobres'
conseguem melhorar seu Ideb?
'Para medir, de fato, o esforço de uma escola e o
quanto ela agrega ao aprendizado do aluno, é preciso descontar o nível
socioeconômico, coisa que o Ideb não faz'
Antônio Augusto Gomes Batista*
11 Setembro 2016
Claro que podem, pois toda criança e jovem pode aprender,
independentemente de sua origem social. Mas há condições para isso. Uma delas
está nas características do próprio Ideb**. Desde meados dos anos 1960, a
pesquisa sociológica mostra que, do mesmo modo que na parábola dos talentos,
relatada por Mateus, saem melhor na escola aqueles que mais têm: quanto maior o
nível socioeconômico, maior a probabilidade de a escola alcançar melhores
resultados. Daí uma regra na medida de resultados educacionais: para medir, de
fato, o esforço de uma escola e o quanto ela agrega ao aprendizado do aluno, é
preciso "descontar" o nível socioeconômico, coisa que o Ideb não
faz.
Não é à toa, por isso, que muitos especialistas consideram que o Ideb
não mede as escolas que mais fazem os alunos aprenderem, mas as que têm
estudantes com melhor nível socioeconômico. Muitas escolas "pobres"
melhorariam seu Ideb, se ele levasse em conta o perfil social dos alunos. Do
mesmo modo, muitas escolas que hoje possuem um bom Ideb cairiam no
"ranking", pois pouco agregam em aprendizado: seus bons resultados são
fruto do alto rendimento do background familiar dos alunos da escola, cuja
lógica os favorece.
Outro conjunto de condições reside justamente nesse esforço da escola,
em seu efeito próprio, denominado, pela literatura educacional,
"efeito-escola". O Ideb precisaria medi-lo, subtraindo o peso da
origem social dos alunos. Os estudos sobre esse efeito mostram que ele resulta
de uma conjunção de fatores que vão, no caso brasileiro, de uma gestão
orientada para o aprendizado, passando pelo clima escolar e chegando a uma
formação de professores com qualidade, dentre outros. Mostram ainda que esse
efeito se potencializa quando todas as escolas de uma rede melhoram em conjunto
e que isso só ocorre quando há uma forte política educacional que mobiliza a
comunidade escolar, promove mudanças e dá condições para que elas ocorram. Os
exemplos do Ceará e de muitos municípios estão aí para quem, livre de
preconceitos, quiser aprender a lição e implementá-los, à luz de seu contexto
específico.
*Antônio Augusto Gomes
Batista é coordenador de pesquisas do Centro de Estudos e Pesquisas em
Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec); foi professor da UFMG
** O
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) foi criado pelo Inep em
2007 e representa a iniciativa pioneira de reunir em um só indicador dois
conceitos igualmente importantes para a qualidade da educação: fluxo escolar e
médias de desempenho nas avaliações. Ele agrega ao enfoque pedagógico dos
resultados das avaliações em larga escala do Inep a possibilidade de resultados
sintéticos, facilmente assimiláveis, e que permitem traçar metas de qualidade
educacional para os sistemas. O indicador é calculado a partir dos dados sobre
aprovação escolar, obtidos no Censo Escolar, e médias de desempenho nas avaliações do Inep,
o Saeb – para as unidades da federação e para o país, e
a Prova Brasil – para os municípios.
FONTE:
Aqui
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