segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

"Cena Familiar" – Affonso Romano de Sant’Anna


Densa e doce paz na semiluz da sala.

Na poltrona, enroscada e absorta, uma filha

desenha patos e flores.

Sobre o couro, no chão, a outra viaja silenciosa

nas artimanhas do espião.

Ao pé da lareira a mulher se ilumina numa gravura

flamenga, desenhando, bordando pontos de paz.

Da mesa as contemplo e anoto a felicidade

que transborda da moldura do poema.

A sopa fumegante sobre a mesa, vinhos e queijos,

relembranças de viagens e a lareira acesa.

Esta casa na neblina, ancorada entre pinheiros,

é uma nave iluminada.

Um oboé de Mozart torna densa a eternidade.

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