domingo, 22 de setembro de 2024

"alegres tristes sinas em alegorias" - Fernando Rios

 



​​​​​​​alegres tristes sinas em alegorias



que euforias no dia a dia

que horrores desgostos desolações

melancolias depressões misantropias

minhas sinas desfilam diante de mim?


meu corpo minha casa


minha casa meu corpo


onde está minha vida


onde estão minhas filantropias?



entro e saio de mim


como entro e saio de minha casa?



a vida me espera me espreita


me denuncia


aos brados me convoca


para que desistir?



só se implode amorosamente com o outro


ou no mínimo em romaria



quantas portas e janelas


fecham e abrem a cada segundo


em meu corpo casa vida?



meu corpo animal encontrou uma caverna


e agora quem governa


é meu corpo líquido mineral físico químico



quantas sombras minha caverna absorve


quantas vezes vou e volto


afogado em lágrimas


embriagado em vinho?


o que dizer aos seres sombrios?



quantas vozes gritando norte sul


enlouquecem a rosa dos ventos


destroem o astrolábio


e me mandam à deriva?



casa navio ou casulo?


há que entrar e sair



nenhuma casa aconchega


se não tiver o calor


se não tiver o odor


que se transforma em memória


que registra alegria


acima de qualquer dor



mesmo no corpo que pausa


a casa caminha tênue


porque há corpo


porque corpo sem casa


                                                                  vagueia



Fernando Rios



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