"Seja a corda para a minha guitarra, ó água" - Mahmoud Darwish
Seja a corda para a minha guitarra, ó água
Seja
a corda para a minha guitarra, ó água: os conquistadores chegaram,
os
antigos partiram. É difícil lembrar o meu rosto
nos
espelhos. Seja-me a memória para eu lembrar o que perdi...
Quem
sou eu depois da coletiva partida? Tenho uma rocha
que
carrega o meu nome sobre colinas que veem o que passou
e
acabou. Setecentos anos me acompanham atrás dos muros da cidade...
Em
vão o tempo gira para eu salvar o meu passado num instante
que
faz nascer agora a história do meu exílio em mim... e nos outros...
Seja
a corda para a minha guitarra, ó água, os conquistadores chegaram,
os
antigos partiram para o sul, povos restaurando os seus dias
nos
escolhos da transformação: sei quem fui ontem, mas o que serei
amanhã
sob as bandeiras atlânticas de Colombo? Seja a corda
para
a minha guitarra, ó água. Não há Egito no Egito, nem
Fez
em Fez, e Damasco está distante. Não há nenhum sacre
na
bandeira da minha gente. Não há rio ao leste do palmeiral cercado
com
os cavalos rápidos dos mongóis. Em que Alandalus vou terminar? Aqui
ou
lá? Saberei que morri e que deixei aqui
o que há de melhor em mim: o meu passado. Nada me sobrou além da minha
guitarra.
Seja
a corda para a minha guitarra, ó água. Os conquistadores se foram,
os
conquistadores chegaram...
Mahmoud Darwish
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