domingo, 7 de janeiro de 2024

"Poema dedicado às heroínas e heróis do Fatah e Hamas" - Julian Rodrigues

 



Poema dedicado às heroínas e heróis do Fatah e Hamas




corpos agora neste momento de novo esvaem-se


(fenecem)


a poesia não está em nenhum dos seus jornais


covarde ocultamento


cínico-sorridente apoio


às orgias regadas de cadáveres


vísceras – com finos talheres degustadas



mas saber que resiste, Gaza


enquanto repetimos nossas esdrúxulas rotinas


que quando ligamos nas tevês de notícias


aparecem as imagens de suas mortas


mas resilientes ruas



não existem mais jornais


só tevês e redes virtuais


unidas


querem tirar todas esperanças dos justos



sem míssil sem tanque sem fuzil


às vezes sem nem velhos estilingues


mártires de todas idades


teimam teimam teimam



so callled terroristas


persistem insistem resistem


respiram (não sei como)


subalternos podem vencer!



um dia depois do outro dia e depois do outro dia e da outra noite


fumaça, lixo, restos, entulhos pútridos chovem sobre eles


não avistamos (nosso bom Carlos)


qualquer sinal


de tímida flor nascendo no asfalto


ou em canos fumegantes de tanques



sionistas asquerosos


lacaios ridículos


crudelíssimos


regurgitemo-los!



ratazanas bubônicas


hipocritamente evocam deuses patriarcais


perseguições bárbaras de antanho


assim justificam


o direito de replicá-las sobre outros


salivam excitados



certo tal deus deles lá


teria concedido-lhes


escritura atemporal inconteste


mais um bônus


o direito de ter sempre razão


e de matar


quem lhes aprouver (em qualquer tempo ou lugar)



esse barbudo amigo imaginário dos caras


(o misógino lá de cima)


além de tudo


fê-los – os sionistas –


uma gente tão especialíssima


saturados de privilégios e poderes


basta um estalar de dedinhos


caem mortos milhares


mas sempre os mesmos


os vizinhos diferentes



não obstante


em outras eras


enxurradas de sangue imperialista-sionista-burguês


já fizemos justamente jorrar


(é possível não perecer)



feitos de rochas


coube aquele pequeno povo


a desventura amarga de guerrear


por toda eternidade



um povo que não quer morrer


combate


me sob tantos escombros


mas os caras temem


que medo eles têm de vocês



lutar então do apocalipse ao gênese


pelo banal direito trivialíssimo


de continuar onde sempre estiveram


e plantar, copular, rezar, gozar, criar


fazer poesia


trabalhar



um dia (talvez)


o justo, o bom e o belo 


hão de aparecer


redimir tantos corpos


marcados por indescritíveis cicatrizes



homenagear-se-ão nesses dias


cada perna arrancada


cada braço faltante


e todos olhos brutalmente cegados


junto com aas pilhas de corpos incinerados



nesses tempos


as bombas de ricos


e artefatos que machucam


se quedarão danificados definitivamente


os bodoques dominarão esse mundo novo



but now


maintenant


presentemente a hora


cabe-me constatar a desgraça


e chorar



meu peito inteiro se aperta


coisa esquisita


angústia



respiro fundo


uma vez mais busco entrincheirar-me



observo ternamente meus companheiros


alguns mais , outros pouco menos cansados



lembro-me quão agridoce é


a cada segundo


lutar pelo bom


pelo belo


e pelo justo



os palestinos não desistem – não se vergam.


emocionam-me


pois eles sabem que nenhum ser vivente


tem o direito


de passar por aqui somente acumulando moedinhas


conformados com tal vidinha a nós destinada



só minimamente vale a pena viver


(cecilianamente falando)


se for todos os dias reinventarmo-nos



Free Palestine!


Palestina Libre!


Palestine Libre!


Palestina Livre!



Julian Rodrigues


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