sábado, 22 de julho de 2023

"Soneto da chuva" - Carlos Oliveira


 



Soneto da chuva

 

 

 




Quantas vezes chorou no teu regaço


a minha infância, terra que eu pisei:


aqueles versos de água onde os direi,


cansado como vou do teu cansaço?


Virá Abril de novo, até a tua


memória se fartar das mesmas flores


uma última órbita em que fores


carregada de cinzas como alma.


Porque bebes as dores que me são dadas,


desfeito e já no vosso próprio frio


meu coração, visões abandonadas.


Deixem chover as lágrimas que eu crio:


menos que chuva e lama nas estradas


és tu, poesia, meu amargo rio.



 

 

 

Carlos Oliveira


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