domingo, 14 de maio de 2023

"O sangue na veia" - Marly de Oliveira

 




O sangue na veia

 




Escrevo; logo, sinto, logo, vivo,


e tiro-lhe ao viver a indisciplina


que o espraiaria, que o dispersaria,


e dou-lhe a minha forma comedida,


a que tem o tamanho de um amor


que eu guardo, que não gasto, não disperso;


amor que se concentra em dura pérola,


não pétala, não isto que é um excesso,


pois que pode voar; o que me fica


de tudo o que acontece e não se altera,


de tudo o que acontece e me escraviza,


e do que escravizando me liberta.


Escrevo; logo, sou quem se domina,


e quem avança numa descoberta.



 

Marly de Oliveira


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