terça-feira, 30 de maio de 2023

A uma ausência" - António Barbosa Bacelar

 




A uma ausência

 

 

 




Sinto-me sem sentir todo abrasado


No rigoroso fogo, que me alenta,


O mal, que me consome, me sustenta,


O bem, que me entretém, me dá cuidado;


Ando sem me mover, falo calado,


O que mais perto vejo, se me ausenta,


E o que estou sem ver, mais me atormenta,


Alegro-me de ver-me atormentado:


Choro no mesmo ponto, em que me rio,


No mor risco me anima a confiança,


Do que menos se espera estou mais certo;


Mas se de confiado desconfio,


É porque entre os receios da mudança


Ando perdido em mim, como em deserto.



 

 

 

António Barbosa Bacelar


 

(Portugal 1610-1663)


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