A uma ausência" - António Barbosa Bacelar
A uma ausência
Sinto-me
sem sentir todo abrasado
No
rigoroso fogo, que me alenta,
O
mal, que me consome, me sustenta,
O
bem, que me entretém, me dá cuidado;
Ando
sem me mover, falo calado,
O
que mais perto vejo, se me ausenta,
E
o que estou sem ver, mais me atormenta,
Alegro-me
de ver-me atormentado:
Choro
no mesmo ponto, em que me rio,
No
mor risco me anima a confiança,
Do
que menos se espera estou mais certo;
Mas
se de confiado desconfio,
É
porque entre os receios da mudança
Ando
perdido em mim, como em deserto.
António Barbosa
Bacelar
(Portugal
1610-1663)
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