terça-feira, 6 de abril de 2021

"O domador de luas" - Al Berto

 





O domador de luas

 

 


 

 

estamos encostados a uma roulotte bebemos sangria


conversamos enquanto queimamos a noite


junto ao mar


o vento fresco surpreende-nos com as mãos nervosas


em redor dos copos embaciados a ternura dum olhar


não chega para iludir a embriaguez dos amores imperfeitos



 

sei que possuis ainda alguma juventude nesse sorriso


eu já só embebedo os lábios viciados pelas palavras


pouco tenho a dizer-te


toco-te no ombro faço promessas e tu ris


enquanto descobrimos no silêncio cúmplice do vinho


treme uma teia de luminoso sal onde a noite cai


sobreviveremos ao desgaste do amor



 

bebemos mais


para que haja só desejos e não amor entre nós e


o rapaz que tem a mania de espetar uma faca loura


no ombro do mar


La vie est une gare, je vais bientôt partir,


je ne dirai pas où.


calei-me


sabendo que me conduzirias até casa pelo caminho da praia


cambaleantes


e enquanto eu não conseguir abrir de novo os olhos


não partirás tenho a certeza


com a tua jaula cheia de luas mansas


apaziguadas

 

 


 

 

Al Berto


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