quarta-feira, 7 de abril de 2021

"Deito-me na cama vazia" - Ana Wiesenberger

 





Deito-me na cama vazia

 

 

 


 

Deito-me na cama vazia


E entrego-me ao silêncio


Não há ecos


Não há sombras


Não há braços, nem pernas


À espera de mim



 

O meu corpo molda-se aos lençóis


E enrola-se no sonho


Na maresia do desejo de te ter


De te encontrar


Aqui na penumbra do meu quarto


No sossego das minhas vozes


Na tempestade do meu ser


Sedento de ti



 

Abro os sentidos em mim


Devagarinho, como quem abre


Uma porta antiga, selada de tempo


E deixo-te entrar


Sorrateiro e impotente


Na tua dimensão emprestada


À minha fantasia



 

Sinto o teu peso sobre mim


A deslizar num movimento febril


E o teu rosto indistinto de sépia


Numa moldura de outro século


Liberta-me em espasmos doloridos


Resgata-me da minha solidão


Para me levar contigo



 

O amor franqueia todas as cancelas


A eternidade é o momento

 

 

 


 

Ana Wiesenberger


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