"Viagem pela rua dos casinos" - Virgílio de Lemos
Rua Araújo (a rua dos casinos) na cidade de Lourenço Marques no Moçambique colonial
Viagem pela rua dos casinos
(ao Fernando Ferreira/ao
Reinaldo Ferreira)
1.
A velha rua dos casinos
ri-se
velha cigana, tempo
que vai a rua para dar
um ar da sua graça:
na noite, guerras de
sedução,
passeiam-se velhas e jovens
putas, marinheiros, músicos,
mangas de alpaca.
Corpos que se exibem, sexos
que ejaculam,
do solitário deserto
ao imprevisível
vulcão.
2.
E nesta babilônia de gozos
frágeis luzes e amores
Insulada e cúmplice,
a noite avança pela
madrugada
e o cacimbo sustém
a ironia leve das sensações
e sonhos.
O sexo, meu Amor, escreve-se
sem cadastro, almirantes
e marinheiros, Detinhas e
Júlias
de garras e dedos de suruma
suspensos entre tua savana
de indecifráveis línguas
e meu ideado fogo.
3.
Pelas tuas costas, colinas,
tuas ancas, latejam
leitosas, as asas do
abandono,
cessa a vida, morre o canto
e a noite é
a cintilação dos murmúrios
a musicada vertigem
do silêncio.
Virgílio de Lemos
(Poeta moçambicano)
L.M., 1952
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